TEO
O homem se revolta quando ferem sua
ideologia.
GAIA
Não tem nada a ver com ideologia,
Téo. Essa coisa de os homens procurarem dores e amores é uma necessidade
fisiológica. Precisam disso para viver. Muita gente respira gritando. Um
homem precisa sentir-se escudo e espada. O primeiro para tudo, o segundo para a
amada. Podem até inverter o cosmos, cortar os fios que seguram os planetas, ou
até chacoalhar nossas vidas com braços divinos; não importa, morreremos todos
com as mesmas convicções, de cabeça para baixo. Irredutíveis – moralistas e irracionais! Nosso orgulho reprime a razão, Téo. Somos cegos falantes! O homem se
vê no dever de fazer justiça na hora errada, cuspe no prato do bom senso. Se
apressa para comer e queima a boca! A justiça perde o jogo da vida para si
própria. O destino é um longo debate entre atos e fatos. Uma disputa de egos!
Argumenta melhor aquele que espera o resultado. Nem tudo nessa vida é guerra,
nem todo valor está na vitrine. Quanto vale tomar um tiro? O que uma causa
precisa para ser nobre? Somos todos cegos falantes.
(...)