Feira livre

Tem gente perguntando o preço
Tem gente escolhendo por mim
Tem gente indo e vindo
E não vejo propósito em cada pessoa que anda e esbarra e compra e manda

É de manhã; é todo dia de manhã
"(o ar não circulou; se circulou, foi só pra esfriar)"

Caí no corredor Direito.
Ainda há tempo de ser astronauta?

Costuro indiferença.
Troco tempo por ócio,
Vendo minh'ansiedade,



Cada gesto, uma desordem.
Tem gente perguntando o preço,
Tem gente escolhendo por mim,
Tem gente indo e vindo.

Minha vida é uma feira.
(sem barraquinha de pastel)

Do cumprimento

Nunca encontro palavras p'ra parabenizar quem eu realmente gosto quando preciso. Não é timidez; o tímido não declara nada. Eu declaro, porém tropeçando. Minha indiferença à efusividade não permite tal gesto. A voz se prende, o abraço é curto e tenho a sensação de que não conseguirei falar nada que não tenha sido dito antes. 

Minha admiração é cliché. Incrível como consigo gritar o ódio, humilhar (em voz alta) a indiferença e ter palavrão pra tudo o que é objeto. Mas o amor, só sai escrito. O amor não se grita; se sussurra. 

O cumprimento não corresponde ao sentimento.