tag:blogger.com,1999:blog-79660046214056230152023-11-16T09:33:46.511-08:00Aspas própriasA letra é solta e a frase é presa.Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.comBlogger97125tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-20316015410147906872013-05-13T10:05:00.000-07:002013-05-13T10:05:31.760-07:00Orvalho<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">Esse
frio que me põe à força um rendado de lã ou linho, como se o próprio tempo
fosse o mandante de deveres e afazeres, sugerindo que a vida segue apesar de
nossa indisposição para segundas-feiras. Essa cara que me embarba a face, como
se eu fosse uma espécie de urso canadense preguiçoso, a não preocupar com os
fios que me crescem sobre a pele. Essa manhã cinza e natural, que de tão
natural está a me fazer pensar se vivo mesmo uma nova fase, ou seria isso tudo
coisa da minha cabeça, a despertar de um vasto sonho em que eu caía de braços
dados com alguém até um jardim subsolo repleto de flores e espinhos. Tudo isso
é velho e novo ao mesmo tempo, e a vida é só um labirinto-amnésia, que a gente
vive e vive e vive, repetidamente, porque esquece que já viveu a mesma coisa
antes. E então, repito velhos hábitos em virtude de uma ocasião repentina,
encarando o ato como se fosse inédito. Todo começo de inverno é começo de vida.
Toda lã é primeira lã e todo vinho é primeiro vinho. Ainda pasmo quando vejo
sair fumaça de meu sopro descompromissado. Há na rua pretensa elegância, uma
ameaça de silêncio, como se o povo agora não tivesse tanto a falar, que
combustível pra sereno é conhaque e chocolate. Uma moça me oferece carona e não
questiono suas intenções, aceito-a por necessidade, até que me tolha todo o ar
do peito com sua doçura ignorante, seu desrespeito com a inteligência humana,
como se ela fosse uma criatura de Walt Disney, doce demais pra ser verdade, mas
o bastante para enjoar. Troco as doses, aguardo respostas e o frio é sempre o
mesmo, a resgatar da memória coisas boas e simples apegadas ao arcadismo de uma
serra ou areia deserta de maio junho julho de dois mil e alguma coisa. Observo
que as folhas caem e as árvores são agora raquíticos corpos nus, braços e
galhos feito ossadas de uma criança africana que não sente frio, em que pese
todos os pesares do mundo. No frio, aparecem-me velhas pessoas que matam a
saudade, como se a minha saudade fosse logo a saudade do mundo todo, a clamar
por beijos e abraços daquelas que um dia beijei e abracei e. Ainda pasmo quando
vejo sair fumaça de meu sopro despretensioso. O frio é engraçado.</span></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<br /><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLV2EdjLCEFZik1CgwSsa2ASefsB6AwVoiRQZT_fX9yjUneF2W4MYjEGjTjMJTLzSG2MJwCDtrqSjPDwP4kbBazWmKwsXb77iSxLcZ7R82v8qzLLBT6mVVsvaM391KAc2UXpwH8MwPPBj_/s1600/229785_10150243371371711_6909239_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLV2EdjLCEFZik1CgwSsa2ASefsB6AwVoiRQZT_fX9yjUneF2W4MYjEGjTjMJTLzSG2MJwCDtrqSjPDwP4kbBazWmKwsXb77iSxLcZ7R82v8qzLLBT6mVVsvaM391KAc2UXpwH8MwPPBj_/s640/229785_10150243371371711_6909239_n.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Fábio Brandão</td></tr>
</tbody></table>
<br />Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-22247929090955126632013-04-14T09:09:00.003-07:002013-04-14T09:09:43.660-07:00Na serra<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="background-color: white; color: #37404e; line-height: 17.99715805053711px;">Não era bem isso o que eu queria te escrever. A primeira ideia era aquela da ampulheta, em que estaríamos os dois soterrados pelo amor e pela areia que caía em nossas cabeças, devendo – ambos – encolher o orgulho para sucumbir ao tempo e ao ar, atravessando o estreito funil de vidro. Porque é esse o fim do amor. Respirar juntos, como se o pulmão de um fosse o bastante para salvar o ar do outro, co</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; line-height: 17.99715805053711px;">mo daquela vez que você me salvou no alto da serra, quando não conseguia respirar de tanta asma, de tanto pó, de tanta altura. Não havia remédio nem bombinha que me salvasse, mas você esquentou pra mim um leite com Nescau e aquele foi o mais sincero antialérgico que tomei desde que me entendo por gente. E depois descemos atravessados de mãos dadas aquela trilha sem luz, sem coragem, confiando apenas no destemor de um cachorro vira-lata que guiava nossos passos. Foi aí que o cachorro parou e latiu pro nada, e ficamos os dois a imaginar se não era coisa de espírito essa coisa de os bichos pararem e latirem para o nada. Se bem que eu não pensava em nada, demasiado afoito estava com a falta de ar e o meu peito mais se parecia a uma sanfona, um forró de desespero, um arcodeon asmático. Depois foi preciso esperar ao pé da estrada que meu pai nos buscasse à luz da lua e da madrugada, que homem que é homem não tem medo de escuro, mas não é homem o bastante pra morrer afogado no alto da serra. Sabe, amor, naquele dia você me salvou. Tenho pra mim que foi naquele dia mesmo que me apaixonei, pois não se acha em qualquer esquina mulher que lhe esquente o leite e lhe sirva tal dose como ampola de remédio. Cheguei em casa comparando os leitos, há um momento mesmo estava morrendo no alto da serra e agora jazia quente sob lençóis domésticos. Agradeci em segredo a minha doença, pela primeira vez era bom ser asmático. Se eu não perdesse o ar, você não me salvaria e eu não poderia ver seu pranto pela cara que fazia a cada suspiro da minha sanfona pulmonar. Eu bem devia ter-lhe dito isso há um bom tempo atrás, logo depois do resgate ao pé da serra, declarando o meu amor e a graça de ter você para salvar-me. Mas preguiçoso faço-o somente agora. Seu tamanho de mulher foi além, não se restringia ao fato da salvação, mas primeiro por ter subido aquela trilha comigo, numa quinta-feira cinza e chuvosa, sem contato nenhum com cidade nem concreto. E isso é coisa de mulher, não de menina, que mulher de verdade é mulher em qualquer lugar – no shopping ou no mato. Você é mulher – e por isso te amo. E hoje, se perguntarem-me por que me apaixonei, digo primeiro por quem: você. Depois complemento com a história da serra, pois não conheço macho que não assuma seus erros e não se apaixone por Débora que lhe salve as pernas e os peitos. Esqueçamos nossos pecados, é preciso pedir perdão pra conseguir salvação. Deixemo-nos à conta do amor, que casal que é casal se dá chance, seja no cinema do shopping ou no alto da serra, peito com peito no estreito de uma barraca à luz da lua e à sombra da noite. Te amo porque você é mulher.</span></span></div>
Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-60444932650468645672013-02-13T18:02:00.002-08:002013-02-13T18:02:51.456-08:00Por trás do banheiro masculino: a magia de Dona Inah<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">As damas não devem saber, mas existe algo que rebaixa o homem ao lixo da espécie: o banheiro. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Não, minha filha. Não falo dos banheiros de casa, dos quais está pensando agora. Não digo do banheiro que você compartilha com seu pai ou seu irmão, queixando-se das tampas levantadas e dos respingos urinados por fora da privada; o homem não é pior se comete tais erros, as fêmeas cometem tamanho desastre ao entupirem o ralo com os tufos de cabelo no box do chuveiro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Cito os banheiros públicos masculinos – aqueles de botecos e rodoviárias! Não importa onde, pode ser na faculdade, posto de gasolina ou num puteiro distante no sertão do Ceará: banheiro masculino é tudo igual, tem sempre a mesma cara. Banheiro de homem não é<i>toillet</i>, chega ao máximo a sanitário – com a plaquinha engordurada faltando dizeres, ou até mesmo sem indicativos, como aqueles onde se é preciso pegar a chave no balcão do bar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Banheiro de homem é um universo vulgar. É o que mostra que homem é homem. Na porta, estão jogados aleatoriamente palavrões como ‘caralho’ e ‘boceta’. Na parede, eventualmente se avista uma pornografia desenhada – caricaturas de genitais, na maioria das vezes. Banheiro de homem mostra que ali mulher não entra. Ocorre uma autoafirmação da virilidade, traduzida por mal cheiro e putaria escrita. Sempre me perguntei por que alguém carrega caneta Bic quando vai mijar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Dias atrás, descobri que o cenário tem salvação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Vila Madalena, São Paulo. Um sambinha tocando ao vivo. Três cervejas. Vontade de mijar (recuso-me a escrever urinar). Pergunto onde é o banheiro masculino e o garçom me indica uma cabine ao fundo do recinto. Dirijo-me, abro a porta, avisto o mictório, e pronto. No momento, levanto a cabeça – todo homem levanta a cabeça quando mija no bar – e dou de cara com uma frase que não era para estar lá:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<i><span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<i><span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">“Dona Inah, conheci a Bruna numa noite em que a senhora cantava. Obrigado!”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Repara na profundidade da frase. Repara no contexto. Uma típica declaração de amor, dessas escassas, escancaradas, que a gente já não vê mais hoje em dia. Ao contrário das expressões pejorativas, essa vinha escrita de caneta piloto, em bom português. Foi impossível não notar. O cabra estava tão apaixonado, mas tão apaixonado, que não esperou a moça para se declarar, soltou o verbo logo na parede da cabine pública, para outros homens verem. Lá onde os outros machos se desdizem, se ofendem e mijam!. Isso que é amor. Homem que é homem se declara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Explico a minha surpresa. Em frente às mesas e às pessoas, situava-se uma senhorinha de setenta e poucos anos, morena, de feição indígena, que cantava samba raiz e animava a boemia paulistana. Dona Inah deve ter um metro e meio de altura. Espantou-me sua saúde e disposição para cantar, justo àquelas horas da madrugada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 19px; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 4px; text-align: center;"><tbody>
<tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbYd0erkS8b5QxDMwenpWypyIrpeYqJEkCZjdj8g_2KpPdOiZX5diXYHa1oqfqsHiWgY-BuNNQ5XqB0Mm_zh_8yw-NXEGcdAHbHYNA9BryopvO1qkBW8Vo7dk26f4-SkVQHM6QBM8lft0/s1600/dona-inah.jpg" imageanchor="1" style="-webkit-transition: background-color 0.1s linear, color 0.1s linear; border: none; list-style: none; margin: 0px auto; outline: none; padding: 0px; text-decoration: initial;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbYd0erkS8b5QxDMwenpWypyIrpeYqJEkCZjdj8g_2KpPdOiZX5diXYHa1oqfqsHiWgY-BuNNQ5XqB0Mm_zh_8yw-NXEGcdAHbHYNA9BryopvO1qkBW8Vo7dk26f4-SkVQHM6QBM8lft0/s320/dona-inah.jpg" style="border: none; list-style: none; margin: 0px; max-width: 600px; outline: none; padding: 0px;" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="font-size: 11px;">Dona Inah, a própria.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Imagine agora que Dona Inah nunca saberá do casal que se formou por sua conta. Posso enxergar os dois pombinhos anos atrás, na porta do bar, apresentando-se e indagando que grupo de samba tocaria naquela noite amável. E do nada, depois da garoa, surgir Dona Inah, a madrinha alcoviteira. Apesar de velha e baixa, vale dizer que ela não passa despercebida. A rouquidão da sua voz é reflexo da experiência, um prato cheio para os amantes do samba.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A sambista nunca lerá a declaração feita no banheiro masculino, nem mesmo a felizarda com o nome de Bruna. E duvido que algum macho tenha condenado o apaixonado que a fez. Um amor é mais notável que um desprezo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Se a ama, declare, mesmo no banheiro masculino. Quem sabe um dia alguém escreverá sobre isso.</span></div>
Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-11246993343657486042013-01-25T10:28:00.000-08:002013-01-25T10:28:27.017-08:00TIPOS MASCULINOS: O MACHO ANSIOSO<br />
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 19px; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_eDeA71xV-x4lSzkdZVKi8ulUxgIgQCatTZTYVlsNaTczP0WmAyQtLH_bcMRcWB00TRczD0xwDK7INuurIUXPusfwZoU0jYWorpkSiJZXLXjDO-yILIvVKQDLUJmp-roqRwPbGutESSs/s1600/ansiedade.gif" imageanchor="1" style="-webkit-transition: background-color 0.1s linear, color 0.1s linear; border: none; color: black; list-style: none; margin: 0px 1em; outline: none; padding: 0px; text-decoration: initial;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_eDeA71xV-x4lSzkdZVKi8ulUxgIgQCatTZTYVlsNaTczP0WmAyQtLH_bcMRcWB00TRczD0xwDK7INuurIUXPusfwZoU0jYWorpkSiJZXLXjDO-yILIvVKQDLUJmp-roqRwPbGutESSs/s1600/ansiedade.gif" style="border: none; list-style: none; margin: 0px; max-width: 600px; outline: none; padding: 0px;" /></a></div>
<div class="separator" style="background-color: white; clear: both; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 19px; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Sofrer por antecipação não é pouca coisa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso é um coitado; sofre até pra ganhar prêmio. No momento da aposta já se preocupa em como fará para recolher a grana sozinho – tem medo de ser assaltado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso não consegue dormir de ansiedade. Acorda antes que o despertador toque e passa o dia inteiro com sono.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso não dança bem. Quando puxa uma mulher bonita para dançar, atrapalha-se nos passos e pisa no pé dela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso bebe cerveja e não dispensa um trago no cigarro. No bar ou na porta do hospital, não recusa nada que lhe acalme os ânimos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso não bate pênalti. Acredita que o goleiro acertará o canto do gol antes mesmo que ele escolha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso tem manias. Conserva um sem-número de rituais que julga necessário cumprir para evitar um desastre. Atribui imensa importância à simetria das coisas e evita ao máximo o contato físico com desconhecidos – acredita que aí moram as piores doenças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso reza por antecipação. Faz prece para remediar um enrosco futuro. Às vezes crê em mais de uma coisa, somente para garantir os milagres; faz sinal da cruz e grita saravá – se não for um, vai o outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso não gosta de cumprimentar semi-conhecidos, tem pânico – o ex-colega de escola, o ex-vizinho, o ex-professor, etc. Quando avista algum na rua, prontamente se põe a amarrar os cadarços, desviar o olhar ou entrar na primeira loja à vista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso toma remédios. A maioria já sofreu de falta de ar na infância e fez disso um trauma, o que o levou a carregar um estoque de primeiros socorros: tem band-aid, analgésico e até remédio pra dor de barriga (ele não gosta de lugares que não têm banheiro e carrega papel higiênico no carro).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso tem medo de engravidar a mulher – indaga se ela toma anticoncepcional, mesmo que a pergunta lhe custe a transa. Compra camisinha com espermicida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso tem lugar cativo nas seguradoras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Quando vai sair, chega antes no restaurante – tem medo que esgotem as vagas. Leva dinheiro, cheque e cartão – na falta de um, vai o outro. A conta é sempre uma surpresa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Quando tem compromisso, vai de taxi – o transporte público sempre atrasa e pode lhe deixar na mão, prefere não arriscar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">A vida do ansioso é uma aventura. Ele enxerga risco em avião e epidemia em multidão. Tem os nervos à flor da pele e faz disso um instrumento futurista – analisa todas as possibilidades antes mesmo que alguma aconteça. Sua vida tem mais ação do que as demais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Ele é lírico e pensante. Seu nervosismo é uma autodefesa; sua expectativa é modelada – uma metralhadora de impressões desnecessárias, uma chuva de balas desperdiçadas. Ansiar é gastar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">O macho ansioso é confiável. Não faz mal pra ninguém, pois acredita que o universo devolve tudo em troco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Georgia, Times, 'Times New Roman', serif; font-size: 14px; line-height: 21px; text-align: justify;">
<span style="border: none; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13pt; line-height: 25px; list-style: none; margin: 0px; outline: none; padding: 0px;">Confesso que sou ansioso, mas nem tanto.</span></div>
Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-45092084245572119732012-08-21T20:30:00.000-07:002012-08-22T05:17:32.162-07:00Asilo<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">O enfermeiro caminhou pelo salão do
asilo até chegar ao quarto de repouso. Percebeu no canto do cômodo uma velha
cabisbaixa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">Sugeriu:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– A senhora deseja dar uma volta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– Acha mesmo que tenho condições para
isso? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– Vamos, te faço companhia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– Você fala como se ignorasse a minha
cadeira de rodas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– E a senhora ignora o dia lindo que
está lá fora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 200%;">– Bem vindo à vida, enfermeiro! Este
jogo de ignorâncias rechaçadas. Há outra saída senão ignorar as coisas alheias?
Não me recrimine, bípede de família e lar próprio! Respeite ao menos o meu
pedido de estar em paz. Ignore-me você também, não deve ser tão difícil. Pergunte
ao meu ex-marido como fazer. Ele, que me abandonara em tempos de necessidade,
fazendo com que eu caísse em prantos, preocupada em esquentar-me sob os lençóis
cremados. Procure minha filha e diga que, como ela, você também deseja me
ignorar. Aquela ingrata deve se lembrar de como fugiu de casa, após conhecer um
engenheiro da capital. A cada vez que você chega, moço, torço para que não me
olhe com essa cara de piedade. Me dá vontade de cuspir-lhe à face. Finja, pelo
menos, que não sou uma coitada. Faça parecer com que eu me sinta forte – como se
tivesse ainda duas pernas e não me molhasse as calças. Meus ossos gemem, choram
– e quem me dera chorar também! Nada mais me surpreende, rapaz. Sei dos dias em
que haverá chuva e também daqueles ensolarados – como o de hoje, que você julga
ser lindo. Colo o rosto à janela e observo: como são previsíveis os seres
humanos! Sinto falta de quando a vida continha novidades. Tudo aqui é cinza e
frio. Uma caixa de corpos fracos e pegajosos, aguardando que os ponteiros do
relógio sentenciem a esperada hora. Tempestade de areia em ampulheta. E lá vou
eu ser ignorada de novo – por uma amiga que morre ao lado com derrame cerebral,
ou por outra, à minha direita, que me pergunta o nome a cada surto de Alzheimer.
O asilo é um misto de vasculares entupidos e corações sôfregos; um labirinto em
linha reta, onde se conhece a saída, mas não consegue alcança-la. E então, como
se não bastasse esse dilúvio de pesares, me vêm ainda uma porção de fiéis aos
pés da cadeira de rodas. Fanáticos perdidos, que rezam, choram e prometem-me
vida eterna. Arre! E eu lá quero viver para sempre? Desejo morrer como uma
chama que se apaga, como um vidro que se estilhaça – sem qualquer esperança de
reconstituição. Quero descansar. Reze por mim, enfermeiro, e ignore a minha
existência. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<br />Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-7360277421684745942012-08-19T19:57:00.000-07:002012-08-19T19:59:22.047-07:00Segundas revelações<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Qual o nome da Senhora?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Estou tentando descobrir faz tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Como assim, não sabe o seu nome?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Preciso escolher um especial.
Afinal, nome é coisa nossa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A velha afirmou certeira, num petardo
de sabedoria. Da maneira como foi solta, a frase não aceitaria contestações.
Concordei com ela e apresentei-me com meu nome. Em seguida, uma enfermeira
aproximou-se de mim e esclareceu a problemática: a senhora tinha Alzheimer. Na
vida fora do asilo, havia sido professora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Insisti em conversar:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- A senhora era professora de quê? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">- Ah, meu filho! Não vamos falar de
mim... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Concluiu num tom triste, melancólico.
Decidi não prolongar o papo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Foi o primeiro diálogo metafísico (de
muitos) que tive no dia de ontem. O asilo é como uma grande corda estendida,
prestes a arrebentar. E, vai por mim, essa corda te dá um nó na garganta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Cheguei lá com um grupo de mais ou
menos quinze pessoas. Todos com a cara pintada, bexigas e perucas; inclusive
eu. A cena da entrada parecia-se com aniversário de criança. Todo mundo batendo
palmas, anunciando a chegada de gente querendo passar alguma mensagem positiva
num contexto que não abre (muita) margem para tanto. Já tinha participado de
outras visitas com esse pessoal. Muda-se o asilo e o orfanato, mas não a
surpresa. Gente carente que te olha com jeito estranho, indagando o porquê de
existirem pessoas afim de trocar a cerveja do sábado à tarde pela companhia de
um abandonado. Há exceções.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O segundo ancião com quem conversei
tem um nome que me agradou. Nutri por ele um afeto especial. É um velho
ranzinza, sarcástico, desiludido. Daqueles que falam palavrão e não ignoram a
condição solitária de quem está no asilo. Sem demagogia. Gosto disso. Estava
amarrado na cadeira de rodas – amarrado mesmo – não procurei saber o motivo.
Olhou para mim como se não visse graça no meu rosto pintado de palhaço. Uma
enfermeira se aproximou e sugeriu uma foto nossa. Ele resmungou. Ela pediu pra
fazer tchau. Eu fiz. Ele a mandou tomar no cu (com gestos). Pronto, foi o
estopim. Pra mim bastou. Gostei daquilo. Já éramos quase amigos. Conversamos, e
ele pediu uma Coca-Cola. Quando cheguei com o copo de refrigerante a enfermeira
me alertou: cuidado, ele é bravo, pode cuspir tudo em você. Não cuspiu.
Enquanto conversávamos, me chamava de jovem em tom bem jovial. Quando ficou
sabendo que estavam distribuindo balas, o velhinho ficou doido, parecia
criança! Comia bala e pedia mais. Missão cumprida; levei bom humor pra quem
menos esperava. Era a hora de procurar um próximo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Estávamos todos numa espécie de
salão. Os velhos (a maioria sustentada por cadeira de rodas e com a saúde bem
debilitada) estavam distribuídos ao longo de uma grande mesa. Fiquei meio
perdido, como de costume, em encontrar alguém disponível para bater um bom
papo. Olhava de um em um, reparando nas sondas, nos soros, nas rodas. Acenava
compulsivamente esperando retorno. Seria demais exigir paciência de qualquer um
deles. Imaginei-me em seus postos. Que conversar que nada, eu ia querer mesmo pedir
um chope. Criei uma estratégia: “vou acenar para todos, quem corresponder, eu paro
e converso”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Deu certo! Um velhinho da voz baixa
sorriu pra mim. Conversamos! Mas por que essa exclamação, me pergunta você.
Conversamos sobre mulheres. Sim, o velho, no auge dos seus 83 anos, veio me
falar de mulher. “No meu tempo, eu não perdoava nada, meu filho!”. Olha que
coisa linda. Juventude é juventude. Ao seu lado estava um outro com a camisa do
Palmeiras. Corintiano que sou, fiz piada. E não é que o velhinho ficou
ofendido!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Permaneci com a tática do aceno correspondido.
Troquei ideia com vários outros anciãos. Perguntei se gostavam do asilo, por
que estavam lá, há quanto tempo. Uma velha me chamou de gostoso e tascou-me um
beijo no rosto. Era daquelas bem humoradas. Também gostei daquilo. Com uma
intensa naturalidade ia surgindo uma boa história atrás da outra. Curiosidades
e detalhes com a importância de um segredo de Estado. Desde um Coronel
aposentado que bebia vinho escondido no almoço até um senhor negro que cantava as
modas de viola que tinha decorado. Este aí declamou “Reino Encantado”. Tinha
uma gaita em mãos, e nos pulsos 3 (três!) relógios. Obviamente que perguntei:
mas pra quê tantos? Respondeu, “ganhei, não tenho culpa que gostem de mim”. Os
relógios estavam pontuais, tal como o velho, que tinha um bom humor de dar
inveja a esquerdista radical. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O tempo foi passando e eu já não
esperava mais nenhuma surpresa. A bem da verdade, preparava-me para despedir. Foi
quando encontrei uma senhora de olhos azuis. Oitenta e sete anos (!), quase uma
moça. Foi a melhor das conversas, e com quem dispendi o maior tempo. Era
espírita. Filosofou sobre isso. O marido morrera e a irmã a abandonara. Mas seu
bom humor era irredutível. Conversamos (e como!) sobre tudo. A pauta variava
entre cinema e sexo (sim, sexo). “Vocês transam muito fácil!”, concluiu na
primeira oportunidade. Ela decorou meu nome de imediato, gostei disso. A velha confidenciou
que não via a hora de morrer, sonhava direto com a morte. Quando chegar a hora,
disse que quer ser cremada. Acha um absurdo os filhos desrespeitarem esse
desejo. Comentei com ela que em Pouso Alegre não há cremação. Despedi-me com
muito pesar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É gente que já viu de tudo. Que viu
morte, que viu vida. Provaram da guerra, da censura, e até do aquecimento
global. Podem concluir que Pelé foi melhor que Maradona; leram Nelson Rodrigues
no jornal; viram Brasília ser construída. Não há surpresas para quem está no
asilo. O tempo caleja o peito. Volto ao primeiro diálogo em que aquela senhora
dizia não saber do seu próprio nome. Imagino que isso seja uma benção
distraída. Um disfarce para a tristeza. Quanto vale sua identidade? Quanto vale
esquecer-se dos teus pecados? O que fazer com os segredos da juventude? A vida
é engraçada.<o:p></o:p></span></div>
Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-22320449024720683292012-08-13T06:14:00.001-07:002012-08-14T07:41:23.360-07:00Fragmento de um Nirvana<span style="font-size: 13pt; line-height: 150%; text-align: justify;">(...)</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">TEO<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">O homem se revolta quando ferem sua
ideologia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">GAIA<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">Não tem nada a ver com ideologia,
Téo. Essa coisa de os homens procurarem dores e amores é uma necessidade
fisiológica. Precisam disso para viver. Muita gente respira gritando. Um
homem precisa sentir-se escudo e espada. O primeiro para tudo, o segundo para a
amada. Podem até inverter o cosmos, cortar os fios que seguram os planetas, ou
até chacoalhar nossas vidas com braços divinos; não importa, morreremos todos
com as mesmas convicções, de cabeça para baixo. Irredutíveis – moralistas e irracionais! Nosso orgulho reprime a razão, Téo. Somos cegos falantes! O homem se
vê no dever de fazer justiça na hora errada, cuspe no prato do bom senso. Se
apressa para comer e queima a boca! A justiça perde o jogo da vida para si
própria. O destino é um longo debate entre atos e fatos. Uma disputa de egos!
Argumenta melhor aquele que espera o resultado. Nem tudo nessa vida é guerra,
nem todo valor está na vitrine. Quanto vale tomar um tiro? O que uma causa
precisa para ser nobre? Somos todos cegos falantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 150%;">(...)</span></div>
<br />Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-52887227229755860642012-08-11T05:12:00.001-07:002012-08-11T05:12:35.623-07:00Nota de um coelho<br />
<div style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16.5px; text-align: justify;">
</div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Nem mensalão nem olimpíadas, a pauta da semana foi um concurso para
escolher uma “Coelhinha” que representasse a identidade acadêmica de uma
faculdade.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Deve estar se perguntando: mas qual a
polêmica?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Um grupo de alunos da faculdade
associou a ideia do termo “Coelhinhas” (nome que compõe o título do concurso)
àquela marca do velho playboy americano, Hugh Hefner. Tal associação, ao lado
da hipótese do julgamento do Concurso basear-se em parâmetros de beleza,
ensejou uma conclusão de que o respectivo evento se valia de um caráter
machista, inserido num contexto de opressão contra uma minoria de alunas.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">A conclusão deste grupo deu origem a uma
NOTA DE REPÚDIO – sim, com todas estas letras: N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Você me pergunta agora: por quê?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> O texto da nota justifica tal
posicionamento dizendo que Concursos do tipo caminham para o retrocesso social,
agindo em desconforme com o Estado Democrático de Direito e invadindo a
integridade moral da mulher. Foram além, afirmando que a intenção do evento era
COISIFICAR – oi? – o sexo feminino.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Espere aí, mas o concurso era de
beleza?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Não. O Diretório Acadêmico não
disse os termos do Concurso, tampouco os caracteres de julgamento do mesmo. Em
nenhum momento o D.A afirmou que seria preciso beleza para que uma aluna
ganhasse o Concurso.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> E por que “Coelhinha”?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Explico. A Mascote da Faculdade é um
coelho – escolhido democraticamente pelos alunos, por meio de votação. O
desenho do mesmo foi feito por um estudante da própria faculdade. Assim, o
termo nada tem a ver com a marca Playboy.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Mas, e se o Concurso fosse de
beleza, ainda assim não poderia acontecer?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Aos olhos da
N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O, não. Os argumentos são aqueles mesmos.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> Claro que, se houve indignação de
um lado, também houve de outro. A esmagadora maioria manifestou-se ela
permanência do concurso. Não faz sentido que censurem a participação de uma
aluna, sendo que esta age de plena vontade própria (olha o livre arbítrio aí!).
Mas, ainda assim, falaram por ela.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Você se pergunta agora: mas não é muita
tempestade em copo d’água?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">É. Bom senso não vem de berço. Ao criar o
Concurso, o D.A não imaginava que fosse preciso explicar o caráter de
entretenimento do mesmo. Diversos eventos do tipo acontecem em inúmeras
faculdades do país – e, cá entre nós, em muitos lugares fazem coisas piores
(onde realmente deveria existir uma N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O).</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">E por que estou escrevendo isso?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Sou membro do D.A. E confesso: ninguém
abriu a Constituição Federal de 1988 quando teve a ideia do concurso. O artigo
5º, supostamente violado pela ideia da eleição, possui um rol de incisos que eu
estou tentando decorar já faz quatro anos! Sério, é muita coisa.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Nesse sentido, se – na absurda hipótese –
as coelhinhas feriram a dignidade da mulher, o fez de maneira (muito) indireta.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">E se formos falar em princípios, por que
excluir o livre arbítrio? Se o concurso ofendeu aquelas que não participariam,
a nota feriu em maior proporção àquelas que tinham interesse na eleição.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Gostaria de entender o teor deste
moralismo, justo agora.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Faz 4 anos que estudo na Faculdade onde
fizeram a nota. Já vi muita gente se aproveitando do Diretório Acadêmico;
atuando na gestão com displicência e sumindo com dinheiro de repasse sem
explicações. Nunca vi um membro do D.A, das gestões anteriores, entrar na sala
de aula e mostrar prestação de contas, mostrar proposta realizada, mostrar
trabalho feito. A maioria só sugou. E, contra isso, NUNCA ninguém fez nenhuma
N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">E como anda a situação do D.A hoje?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Assumimos o Diretório com várias dívidas.
Daria para escrever um romance. Houve gestão passada que foi condenada
judicialmente, e nós pagamos parte da dívida. Houve membro egresso que fazia da
sede uma verdadeira sacanagem. Houve muita coisa. Certa vez, fomos comprar
bebidas num 24hrs para divulgar uma festa; o dono do bar abriu a gaveta e nos
surpreendeu com uma dívida de R$1.000,00, oriunda de – adivinhem! – uma gestão
passada. Pagamos todos os débitos. Pela primeira vez, em ANOS, o Diretório
Acadêmico possui o nome LIMPO, limpinho da Silva! Sem falar nas propostas que
conseguimos colocar em prática.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Eu sei que a nota não criticou a
eficiência da nossa gestão, mas tão somente o concurso. O que deixei aqui teve
o objetivo de esclarecer as coisas para ambos os lados. Nem a nota de repúdio,
tampouco a presente crônica, objetiva alcançar alguma ofensa de cunho pessoal.
Existem concepções distintas, que precisam ser debatidas. É o caso do machismo,
estopim do debate, que como tudo ao redor, passou por um processo de
banalização (ao lado de fotografias do Instagram e frases da Clarice
Lispector).</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Houve mesmo o machismo que afirmaram?</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Mostre-me materialmente indícios de que o
Concurso acarretaria em quaisquer das consequências alegadas, e vamos cancelar
as eleições. Muita dor sem ferida, muito choro sem vela. Vejo a
N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O como um instrumento de censura, desnecessário ao
ambiente Acadêmico em que se situa. Quase uma medida KASSABIANA, querendo
varrer das ruas o que não se situa no intervalo entre o Politicamente Correto e
a moralidade absoluta. Ainda hão de proibir as conversas de boteco.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Espero que o bom senso esclareça as
coisas, acalme os ânimos e desembace as lentes. Melhor é tomar uma cerveja,
enquanto damos uma NOTA ao pior sorriso do Mister Universo e ao Tchau mais feio
da Miss Brasil.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: start;">
<span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Entre o Politicamente correto e o incorreto, fico com o Politicamente
saudável.</span></div>
<br />
<br />Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-61201142136817814542012-07-21T08:11:00.001-07:002012-07-21T08:34:31.845-07:00Primeiro retrato da loucura<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Se move desatento, relaxado; como se pegasse carona no vento que lhe bate às
costas. À medida com que anda, escuta alguém chamar-lhe ao fundo, mas não dá
importância. Da maneira como sorri, qualquer pessoa se torna imperceptível aos olhos.
Só escuta a si próprio, bem como à sua consciência. Consciência esta que lhe
traiu ao tempo de provar-se capaz.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">A vida esconde o
momento da verdadeira prova, e não revela o resultado. Só se saberá da
aprovação quando estiver no céu ou no inferno. Provar da incapacidade é um
susto, uma surpresa do destino. De repente, descobrimos não conseguir pular um
muro ou construir um diálogo sobre o clima frio da cidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Sua face carrega
uma expressão cansada, abatida, mas também dotada de uma alegria inocente. Seu
sorriso ignora qualquer fato alheio oriundo de novidade. De novo, o seu
sorriso. É o mesmo, com sol ou chuva. Não que isso valha como um mérito; a bem
da verdade é como se tivesse tomado um soco no queixo. Os furos em sua roupa
denunciam a falta de cuidado – não propriamente consigo mesmo, mas por não ter
ninguém que cuide de si. Apesar da freqüência com que se mostra, não sei onde
mora – tampouco se possui um lar. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Observo-o pela
manhã, descendo a Avenida Doutor Lisboa; na noite, é fácil vê-lo andando pelos
bares. Tenho pra mim que não se lembra de quando perdeu a lucidez. Pergunto-me
se há ainda uma memória dentro de sua cabeça. Vejo este louco passar e me
apetece conhecer os seus gostos. Saber se prefere Pepsi ou Coca-cola, ou se vê
diferença entre os pastéis mais populares de Pouso Alegre. Vejo o entusiasmo
com que cumprimenta as pessoas na farmácia, no posto de gasolina e no boteco. Imagino-me
no lugar dele – ao menos que por um dia; desconhecer das notícias, ignorar a
falsidade, não decepcionar-se com a chuva, nem sofrer por amor; ter a
serenidade de confundir os sonhos com a realidade; a paz de não preocupar-se
com a realização dos planos. De viver sem ser vivido. Sentir na pele a
indiferença, bater no peito e dizer: a ignorância é uma benção.</span><span style="font-family: Calibri; font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-43031297927305105522012-07-14T09:46:00.001-07:002012-07-14T09:46:56.747-07:00Das pequenas reflexões cotidianas - I<span style="color: #333333; font-family: inherit; line-height: 17px; text-align: left;">Dispenso o misticismo. Se fosse atribuir um segundo sentido a tudo que me rodeia, tenho certeza de que já estaria louco. Mas, confesso, não condeno quem o faz. É confortável lançar todas as cargas e pesares à responsabilidade dos Deuses e dos astros; vejo que nisso a vida alcança até um pouco de graça. A rotina se parece tão impossível de ser transpassada que encaramos o fim de semana como um milagre natural. E então agarramos o tempo. Rezamos pela segurança do carro no estacionamento e consultamos o horóscopo antes do primeiro drinque de sexta-feira. Nesse sentido o mundo gira. Quanto a mim, vou orando pra que minha cerveja não esquente.</span>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-27438928397793434822012-06-25T20:32:00.001-07:002012-06-25T20:40:38.560-07:00Do vento<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">É tempo de
outrora. Há, lá fora, uma leve sugestão do vento, que nos sopra distraidamente
aos ouvidos o resultado do fim do dia. Uma desatenta persuasão do destino,
querendo que eu me atire no rio mais próximo e deixe-me levar pela corrente.
Mas desatento também o sou. Tão, ou mais do que o vento, pois em vez de
escutá-lo, o vejo. Vejo o que não se mostra. Estou a mirar o reflexo dos lagos
e as asas do beija-flor, que de tão rápido que batem se passam despercebidas. Deito
no colo da procrastinação e peço um café. Na boca, o gosto antigo da
descoberta. Há tempos que não descubro o seguinte. Outro gosto, trago, amargo
do que é pouco. É tempo de escutar. A cinza do alto precisa serenidade. Balanço
na rede e me aventuro em remotas lembranças. Cometo um delito em segredo,
gargalhando o fato do abalo moralístico que viria a sofrer se o vento visse a
si próprio, e o beija-flor não batesse mais as asas e o café me engasgasse a
boca e tudo isso tivesse ouvidos. O que haveria havido? Deixo que o vento leve;
bem como a corrente. Pulo da rede às asas da fênix. Vôo tranqüilo, expectativa
de céu limpo, mas não de aterrissagem. Era Setembro, mas podia ser ontem. A
vida é uma piada sem graça, mas inteligente. Dessas que a gente só consegue rir
depois de muito esperar; dessas que a gente olha pra cara de bobo do outro, e
ri, fingindo entender o porquê de uns irem e os outros ficarem. Bobo sou eu.
Ora, a piada não está na vida; está na morte. Essa coisa de substituírem uns
aos outros sem critério, levando os bons, deixando os ruins e mascarando o
mistério com coisas como a idade e a doença. A doença que não se decifra. Uma
interrogação em cada tosse. Era Setembro, mas podia ser Janeiro. Um frio me
subia o dorso, e eu, sobre a fênix, a olhar tudo do alto – tudo de longe. Como
um mirante em desacordo. Uma ternura embalada num berço de névoa. Disse a idade
e a doença, mas poderia ser simplesmente saudade. A insistência da memória
em puxar aquele verde da infância e aquela forma doutro sonho. Contenho-me com
o silêncio. Resumo a concordância com a vida num aceno de cabeça. Não perdôo o
vento por não se mostrar, nem condeno a rapidez do beija-flor em voar tão
rápido, como se esquecessem de quem os observa, como o faço agora. A
naturalidade é uma resposta discreta. Bonito é conseguir se esconder. Decisão é
saber esperar. Que tenho eu com a vida?<br /><br />...</span></span><a href="http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=5YJKsYRly_8&NR=1">http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=5YJKsYRly_8&NR=1</a>
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Calibri; font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-88788227947967582312012-05-20T18:20:00.000-07:002012-05-20T18:34:02.182-07:00Chalé<div style="font-family: inherit;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial; font-size: 11pt; line-height: 150%;">Teu corpo
anunciando a manhã e eu fingindo dormir, ignorando a alvorada. Um raio de luz,
que não aparenta passar dos cinco centímetros, atravessa a cortina por uma
fresta. Pássaros assobiam qualquer coisa lá fora. Acordo e não abro os olhos.
Como é prazerosa a dúvida ao acordar – evitamos a imagem pra prolongar o sonho;
despertamos e descobrimos a realidade. É tudo real. A garrafa de vinho vazia
prova melhor do que um beliscão. Percorro a íris pelo cenário: duas taças na
mesa, um violão ao pé da cama, lenha queimada na lareira, uma embalagem de
chocolate. Você. Ameaço manter os olhos abertos, mas tenho medo de que perceba.
É confortável te olhar assim: despercebido, sem deixar de ser atento. Meu único
desejo é que continue dormindo – se é que está mesmo apagada e não prolongando
o sonho da mesma maneira como eu próprio estava há dois ou três minutos. O fato
é que há charme no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">voyeur</i> unilateral.
Um mistério nos pensamentos. Uma dúvida quase nítida, buscando decifrar os
símbolos do sonho que nunca tem sentido. Sua cabeça deita sobre meu braço e não
ligo que ambos durmam. Fecho os olhos, abro, torno a fechar. Estou a catar
momentos da noite passada – sair do chalé num frio de arder o corpo, invadir a
cozinha, assaltar a geladeira. Roubar o queijo que não é nosso. Cúmplices. Meu olhar, que tanto protegi
durante todo esse tempo, foi descoberto; ninguém virou pedra. Volto ao
presente: meu sono sem pressa, o descaso com a rotina, despreocupado com a
estrada que pegarei daqui a um instante. Alguém, bem longe, tira o leite e côa
o café. Muito mato, pouca gente. Esqueci dos compromissos que tinha marcado para a noite anterior. O acaso sugere a esperança de tudo se ajeitar. A paz deixou de ser desejo e se tornou um
fato. Os pássaros continuam a assobiar qualquer coisa lá fora. Acordo e não
abro os olhos. É tudo real.</span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-21473052258039509712012-05-18T06:38:00.000-07:002012-05-18T06:54:20.401-07:00Terapia<span style="font-family: inherit;"><br /></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Sabe o que é,
Doutor: eu não tenho nada. Não sou doente não. Minha esposa me mandou aqui.
Disse ter ligado pra secretária na terça, não, na quinta, sei lá, mas não tenho
nada pra falar. Não gosto muito de silêncio, se é que me entende. Nem tenho
tempo pra isso; no banco é uma correria: caixa, conta, porta giratória – é tudo
uma loucura. Tenho cara de louco? Então, Doutor, não é pra eu estar aqui, não
senhor. Ademais, não me agrada a ideia de ficar falando sozinho. Se o senhor
quiser saber da minha história, podemos muito bem marcar uma cervejinha no bar
do Jair, logo ali, em cima da Igreja, sexta-feira seria ótimo. E esse jeito de
conversar deitado, olhando pro teto? Quem inventou? É pra ficar reparando que o
ventilador está sujo? Estranho né, Doutor, quando eu era novo costumava reparar
nas coisas; agora velho, com a vista cansada, tudo parece tão igual. Minha
esposa, a Ruth, vive reclamando que não reparo nela; no cabelo, na unha, na roupa.
A coitada também me vem falar da vida na hora do Jornal, ou atrasa e bate com o
maldito horário do jogo, puta que pariu, né Doutor, tanta coisa pra preocupar:
o goleiro do meu time, a dor nas costas, o caixa no banco, e a Ruth vem me
alugar justo na hora errada. Eu reparo nela sim, sei até o dia que ela vai à
missa, é sempre no Domingo, Doutor. A gente até deita junto, mas eu durmo
primeiro. Ela não gosta, fica brava, diz que faz questão de conversar, que é a
única hora do dia que a gente tem, que de manhã é uma correria maluca pra levar
os moleques pra escola. Puta que pariu, né Doutor, fico o dia inteiro naquele inferno,
já até perdi dinheiro, e a vista cansada, a dor nas costas, o goleiro do meu
time, e a Ruth me cobrando que eu não reparo nela, que eu durmo primeiro e que
eu não levo os moleques pra escola. Já fiz muito isso, Doutor. Quando a gente
casou, eu fazia o café e até buscava o pão. Mas hoje, com essa dor nas costas...
O gerente do banco ta me cobrando, fica falando pra eu ficar de cara boa com os
clientes porque é a nova política da empresa. Puta que pariu, política da empresa,
manda o empresário vir contar dinheiro no meu lugar então. Já te disse que
perdi dinheiro esses dias? Não dá, Doutor, a vista ta cansada. A propósito, já
comecei a falar, o senhor não vai dizer nada? O que quer saber agora? Dos meus
filhos? Já te disse que tenho filhos? Me estouram a paciência, fico puto. Uma
desorganização, um descaso com a vida. Na idade deles eu já trabalhava, e ai de
falar alto com alguém, tomava um tapa na boca. Mas são bonzinhos, os dois. Pelo
menos não usam drogas. Filho viciado eu não aceito. O filho do Vitor, por
exemplo, é um puta maconheiro – já até falei pro meu mais velho ficar longe.
Educação moderna é difícil, se é que o senhor me entende. A escola mete tanto o
bico que to quase entregando o mais novo pra ela cuidar. Te falei que sou
casado mesmo? No papel? A Ruth é gente fina, mas não sei, não tenho mais tanto
tesão, sabe Doutor. O sexo não é dos piores, mas também não faço tanta questão.
Fazer amor é bom, todo mundo sabe. Mas parece companheira, amiga, sei lá. Fico
meio sem graça de pedir pra ela fazer algumas coisas. Não a traio não. Mas meu
olho não tem dono, se é que o senhor me entende. Não posso ver a filha do Seu
Tomás da padaria que fico louco, Doutor. A menina é uma delícia. Mas não traio
ela não, tadinha, imagina a Ruth, ia ficar triste demais. A Ruth esses dias deu
pra falar da minha barriga, como se a dela também não tivesse crescido. Veja
só, com essa dor nas costas, essa vista cansada, esses dois moleques, se eu não
tomar uma cerveja no fim do dia, prefiro morrer de vez. Não tem jeito, Doutor.
Estou cansado. Sinto sono o dia inteirinho. De vez em quando vou ao banheiro do
banco, tranco a porta, sento na privada e tiro um cochilo. Ninguém vê, pensam
que estou cagando. Não dá, Doutor, é muito sono mesmo. Minha esposa até me deu
vitamina pra tomar, mas eu esqueço. Tanta coisa pra lembrar, conta de água,
luz, telefone, puta que pariu. Bonito o ventilador do Senhor, já consegui
reparar, é de bronze né? Se minha esposa visse, ia querer um igualzinho, haja
dinheiro. Sabe, Doutor, o meu pescoço ta doendo de ficar deitado assim, vou
levantar, acho que já deu, fiquei até sem graça, só eu falei, mas foi bom,
Doutor, não doeu nada, com 55 anos, confesso, foi pior fazer o exame da próstata.
Olha, conheci o senhor agora, mas hoje é sexta, sabe como é, tem um joelho de
porco e um copo de cerveja me esperando, ali em cima da igreja, no bar do Jair,
e já é tarde, não posso atrasar, o Roberto e o Armando já pediram até outra
mesa, vamos comigo, Doutor, a gente passa em frente à padaria e eu te mostro a
filha do Seu Tomás, uma delícia.</span><span style="font-family: Calibri; font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-62157566627031334212012-05-17T20:10:00.000-07:002012-05-17T20:10:47.623-07:00SigiloPor isso não falo<br />
Tampouco comento<br />
<br />
A raíz do meu calo<br />
É da boca pra dentroGustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-31785581728133282012012-05-10T07:10:00.000-07:002012-05-10T07:15:03.657-07:00A hora e a vez de João da Espera<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">(...) </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br />E de repente a vida soltou as rédeas. Fruto de um parto prematuro, ele se
deixou levar pelo vento. Alimentou-se na estufa da esquina e se esqueceu de
tomar vitaminas. Caminhou sozinho. Cruzamentos, viadutos, becos; o destino até
parece um labirinto. Um dia, no ponto de ônibus, como que à sua espera,
encontrou alguém. A pessoa, então desconhecida, lhe disse coisas que nunca
havia escutado. Num ímpeto, decidiu levá-la consigo. Caminhou acompanhado. Os
cruzamentos, viadutos e becos, pareciam diferentes. Pelo nascimento antecipado
que tivera, passou a ter os sentidos comprometidos. O que parecia sinestesia
era deficiência. Até pensou em pedir à pessoa para quem dava as mãos que lhe
dissesse o real cheiro do Centro ou as cores do semáforo. Saber quando ir
sempre foi, para ele, coisa das mais importantes. O verde e o vermelho têm um
quê metafísico, instintivo. Em dias tristes, quando nada o esperava, não se
importava em aguardar os segundos procrastinadores do sinal rubro. Se o outro
dava às caras, não notava e chamavam-no de lento. De maneira semelhante
acontecia nos dias de chuva – a consciência se afogava no café e a audição não
era capaz de distinguir um choro, de um riso. Uma distração lhe fazia esquecer
agora das datas. Lembrava-se de que tinha uma pessoa, mas se confundia quanto a
ela. Sabia que gostava. Bastante. Com ela, até aprendeu a falar. Mas demasiado
distante de alcançar qualquer solução. Sua inteligência era dotada de uma
vontade morta, uma paisagem sôfrega. Devo ter mencionado que o sujeito dormia
n’uma estalagem; acostumara-se com o silêncio. Acostumara-se com pouca gente.
Tão díspare. A poucos metros do portão de ferro enferrujado que delimitava o
espaço em que dormia, uma multidão marcava passos e compromissos. Gritavam-no;
principalmente na madrugada. Vândalos e adolescentes invadiam a estalagem a fim
de valerem-se de transas e ópio. Fingia que não escutava; desejava que sua
pessoa estivesse consigo também à noite. Inclinava levemente a cabeça em busca
de uma posição confortável de descanso; em vão. Tinha um charme tosco, um tom
de pena, como um corcunda de Notredame contemporâneo. A história trocou a
catedral por um galpão. A impotência de calar-se ante o mundo, de viver sempre
à espera, de desconhecer quem o possuía, fez com que o homem adquirisse
impaciência. Passou a orar por um dilúvio – um desastre poderia arrancar de
maneira atroz as telhas da estalagem – e se tivesse sorte, quem sabe um raio o
atingisse. Não tinha princípios, mas uma ternura que lhe roubava qualquer tipo
de malícia. Nada que lhe tirasse a desconfiança. Nos sábados gostava de
caminhar com a pessoa querida pelos mesmos cruzamentos, viadutos e becos.
Passavam também pelo mesmo ponto de ônibus, esperando encontrar outra pessoa
que se somasse à solidão. Para uma vida tão despercebida, inútil é que eu
repita a rotina deste sujeito – percebe-se, de praxe, que uma novidade aqui
seria tão improvável quanto a ebulição de um vulcão adormecido. Ocorre que um
dia, num raio do destino, João da Espera decidiu voltar a caminhar sozinho.
Atravessou o perímetro da estalagem, desviou das tralhas que ocupavam o seu
caminho e, de súbito, sentiu a sensação de que nada o traria de volta. Não
levou nada – documento não tinha, tampouco alimento em mãos. Passou a ouvir
comandos e conseguiu enxergar o azul do céu. No primeiro cruzamento, um carro
parou para que atravessasse. No beco, admirou um grafite que destacava o
desenho de um homem que se parecia com ele. Foi até a esquina; o semáforo
estava verde. Passou a pé sem pensar, como se suas pernas tivessem correntes, e
o abdômen, um motor. Desta vez algo o esperava. Só teve o impulso freado quando
parou em frente ao ponto de ônibus. Por um motivo que desconhecia, entrou no
coletivo que parou ao sinal de uma senhora. O pouco trocado que tinha bastou
para que pagasse a passagem. Sentou sem pensar. Com o rosto colado à janela do ônibus
viu a cidade passar no caminho. O céu azul deu lugar a um negrume de nuvens que
se acumularam como um tufão. A chuva que chegara aumentava gradativamente à
medida que João da Espera se afastava da paisagem local. Um dilúvio caiu na
cidade da luz. Os carros foram abandonados no meio da rua e o concreto das
casas foi descoberto pelo vento que acometeu as telhas e calhas. Um raio caiu
na estalagem. Em face da distância, o ônibus seguiu. Nunca mais viram João da
Espera. Saber quando ir sempre foi, para ele, coisa das mais importantes. O
destino até parece um labirinto.</span><span style="font-family: Calibri; font-size: 13pt;"><o:p></o:p></span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-52103815213211586962012-04-09T07:03:00.003-07:002012-04-09T07:15:52.264-07:00Tato<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;">Tenho estado vulnerável. Aquém do meu poder de resistir ou extrapolar os limites. Talvez mais sábio em decorrência disso. Percebi a maturidade quando reconheci a fraqueza – e não faltam nessa vida coisas que nos suguem as forças. Mas com tanto ópio, vitrine e sinal verde, fui perder minha resistência logo em você. Com tanta nicotina no mundo, whisky sem gelo e carro importado, o meu poder foi se perder nos seus braços. Li-te-ral-men-te nos seus braços. E não há ser humano nessa terra que me convença do contrário; não há gente que me dane afirmando que, “não, os braços são menos importantes que os seios, o nariz e a boca”. Não há tom <i>blasé</i> que me passe a perna. Pois afirmo num petardo, sem hesitar: sou um apaixonado por teus braços. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;">Apesar de preencher os requisitos da receita de Vinícius, não foram </span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; line-height: 150%;">os pescoços longos</span><span style="line-height: 150%;">, as saboneteiras, nem os olhos de certa maldade inocente que me fizeram ultrapassar a impressão de você – mas os braços. E dos cinco sentidos que restam a um pobre corpo humano, foi justamente o mais despercebido que me enfraqueceu: o tato. Pele com pele. Que me desculpem o olfato e a audição, mas o tato é fundamental. Explico o motivo: carinho. Carinho no braço. </span><span style="line-height: 150%;"> </span><span style="line-height: 150%;">Só o tato faz carinho. Entendo a dificuldade de estabelecer uma hierarquia entre os sentidos – não me imagino vivendo sem algum. Se eu fosse cego, surdo ou mudo, certamente seria o pior deles. </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><br />
</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;">Ocorre que quando estamos juntos, frente à tela de um filme, de ouvidos à cena dramática, minha atenção aguardando o curioso desenlace da história, é justamente nessa hora, que você descobre o meu braço – com o seu braço. Aí eu perco o foco; e não há filme do Almodóvar que me faça ler as legendas. Não há cena do Woody Allen que me tome à impressão. Não há tiro do Tarantino que chegue aos meus ouvidos. Seus dedos caminham com calma a distância de um continente, que não é nada mais do que o perímetro que vai do meu ombro à minha mão. Tocam as minhas veias em movimentos elípticos e as unhas eventualmente pressionam o antebraço com a paciência de uma canoa. Já mencionei que perco o foco. Tento, em vão, fingir que não percebo; tento buscar outra fotografia com a lente da minha íris. À toa. Minha cabeça deita. Olho pros nossos braços. Juntos. Busco um prédio na janela, uma chuva ou luz acesa. Você fala comigo; não escuto. Sou um eterno distraído. Um quase surdo. Um quase cego. Um completo mudo. Minha capacidade de proferir algo é assaltada. </span></span><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">O carinho é o ladrão dos sentidos.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;"><br />
</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 150%;">.</span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-34010671584270643502012-03-03T15:06:00.002-08:002012-05-18T05:42:43.182-07:00Dos males, o menor.<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<b style="line-height: 11.25pt;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;">carência</span></b><span class="apple-converted-space" style="line-height: 11.25pt;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;"> </span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<br />
<span class="varpt" style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<i><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;">s. f.</span></i><o:p></o:p></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 7.5pt;">1.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;">Falta do que é preciso.<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 7.5pt;">2.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;">Necessidade.<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 11.25pt; text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana; font-size: 7.5pt;">3.<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 8.5pt;">Privação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Quando entrei no orfanato, no último sábado, dei de cara com um garoto que caminhava de ponta cabeça. Suas mãos tomavam o lugar dos pés num petardo que só a arte da bananeira é capaz de conseguir. Me apresentei; ele também. Fui indagado sobre o porquê do meu nariz pintado e do chapéu que carregava um sino nas extremidades. De pronto eu disse que estava lá para brincar e, num repente, outras crianças chegaram. Muitas delas – loiras, morenas, negras e até com pinta oriental. Minha criatividade para inventar algo que entretesse os garotos foi sucumbida. Não consegui ir muito além do controle de bexigas e dos desenhos mal-feitos, o que me fez apelar para o violão.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O instrumento foi como uma lâmpada mágica – garotas e moleques dispersos se enfileiraram a fim de obter uma foto de pôster, com óculos escuros e violão nos braços. Pediram músicas – que eu não sabia tocar. Não parecia importante que eu soubesse, desde que fizesse soar das cordas qualquer barulho com som de novidade. A timidez passou e as informações começaram a ser trocadas. Apareceram outros voluntários com criatividade à flor da pele e peguei emprestada uma ou outra brincadeira para descontrair o ambiente. As horas passaram e fui embora numa chuva de conclusões delineadas por dúvidas e gratidão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Hoje fui ao asilo. Nada de bananeira. As pernas de quem eu encontrei cederam seu espaço às cadeiras de rodas. Andadores ritmavam lentamente o passo de dezenas dos idosos que fitei. A entrada é marcada por um jardim de roseiras e um sino colocado ao alto de um crucifixo. O local se divide em longos corredores que dão ao cenário um caráter místico de labirinto. Quartos e mais quartos identificados por números e nomes, catalisam o asilo, cedendo aos residentes um repouso digno, porém simples. Muito simples; de uma simplicidade capaz de questionar a legitimidade do que é, de fato, digno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Caminhei mais um pouco e fitei os anciãos. O caminho foi marcado por cumprimentos e conversas ligeiras sobre o almoço que tiveram e a chuva que estava para cair. O clima sempre é um assunto. Quando percebia maior receptividade, parava para alongar o papo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A primeira me contou do tempo que já estava lá, do aniversário que acabara de fazer e do pino colocado em seu joelho direito. Angelina é de uma simpatia capaz de pegar emprestado o charme e o sobrenome da atriz homônima; tem pinta de Jolie.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O segundo a me contar mais que o habitual papo-rápido foi um senhor que julga ler as mãos e desvendar o futuro. Quanto ameacei esticar a minha até ele, fui avisado: a previsão custa 50 reais. Deixei quieto e botei minha sorte nas contas do destino, sem duvidar da capacidade médium do senhor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Conheci também um velho com uma imensa bagagem de histórias sobre sua vida em São Paulo – muitos dos velhos deste asilo são de São Paulo. Escutei contos que iam do pasto ao puteiro; histórias de sexo capazes de dar inveja às letras do velho safado Bukowski. Brinquei que vou levá-lo à zona antes que ele morra; ele riu e disse que irá cobrar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Um coral e três palhaços se juntaram a nós para dinamizar o duro fardo de quem não espera mais nada deste mundo. Ao longo da música, lágrimas e risos ecoaram no local, provando que nunca se é velho demais para chorar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Quando se visita um ambiente de pessoas carentes a interrogativa é inevitável. Qualquer um, por mais relapso que seja, vira perspicaz entrevistador. O cenário se torna uma chuva de perguntas curiosas sobre as conquistas do passado e as expectativas do futuro. É prazeroso aprender com questões e respostas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Pra quem perdeu uma avó há pouco tempo, uma visita ao asilo é um soco no estômago. Minha garganta deu um nó. Sabe-se lá as razões de um abandono. Escutei frases que iam de ditados a filosofias originais, que poderiam ter sido proferidas por Jean Paul Sartre ou pelo velho pipoqueiro da praça que perdeu os filhos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Quase todos os quartos são marcados por altares, numa fartura de santos com potencial de fazer do local um quase-templo – não fosse pela ausência de milagres. Os idosos do asilo sabem a data exata de quando entraram. A vontade de sair do retiro é quase unanimidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Os males se camuflam com o tempo; só mudam de forma. Na infância um braço quebrado é motivo de revolta. Na adolescência, uma espinha é razão para suicídio. Na vida adulta, não há nada pior que dívidas. No fim da vida, o Alzheimer amacia o peito com um tapa de luva e o Parkinson marca o corpo feito um ferro quente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Despedir-se das pessoas carentes é sempre uma tarefa difícil. Sempre há lágrimas de um dos lados da corrente e o medo da solidão volta ao presente como um pesadelo indeclinável. É preciso ceder tempo, ceder espaço. Doar. A carência é o pior dos males. A carência é a sede da alma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-33034427536390688912012-02-11T03:29:00.000-08:002012-02-11T03:29:01.425-08:00Banho de água fria<div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 14px; text-align: left;">Não desprezar as escolhas que vêm do nada. Não subestimar as decisões que aparecem sem pedir licença. As melhores coisas da vida não têm gosto conhecido. A surpresa não dá tempo à ansiedade. Deixar correr a sensação do inédito; o minuto seguinte é um curta a ser filmado. Não parar, não negar, não calar. Caminhar contra o tempo na calçada do destino – o granizo é um afago que ainda não foi encontrado. Haverá sempre uma dúvida. Haverá sempre um vidro fosco. Nunca se sabe do amargo do tinto ou do fel do incolor. O amanhã é o fim do mundo.</span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-82558475177878192632012-01-29T11:54:00.001-08:002012-01-29T11:55:55.203-08:00Ato de fim de semana<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">(...)<br />
<br />
<span style="line-height: 150%;">Téo já previra o que iria acontecer, no momento em que deitou a cabeça na pedra. Observava o céu e as nuvens com uma densa dúvida sobre quem se movia mais rápido. Frente aos seus olhos, uma linha divisória destacava o azul, lado a lado com as espumas de vapor que mais pareciam às barbas de um velho – Deus, quem sabe. O contraste das cores fez com que se lembrasse do Rio Negro e do Solimões. Por pensar em rios, recordou também o Tejo, memória esta que o levou a Portugal – país onde nunca havia estado antes. Nesse meio tempo, concluiu que o lirismo é português.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Como é belo o milagre da intuição. Despertamos e nem reparamos que o compasso do peito é o que dita como vai ser o dia. A falta de ar que Téo sentia poderia servir – para os mais perspicazes – como pista para a decepção que teria em breve. Criar expectativa é financiar felicidade – lembrou-se. O presente foi tomado por uma dicotomia razão-paixão, que de tão ácida, foi encarada como desilusão. Uma desilusão amorosa que não tratava de amor, mas de paixão – o que não exclui a possibilidade do afeto unilateral.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Téo se levantou e caminhou até o quarto, naquela velha necessidade de sepultar as perguntas com respostas. Gaia lia Woolf, sentada de pernas cruzadas como fazem os hindus. Fitou-a. Ela não levou mais que um instante para perceber e interrogar o desespero do homem.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- O que houve?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Nada, ainda.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Você fala como se descobrisse o fim do mundo. Se nada aconteceu, não há motivos para desapontamentos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Tu não entendes, Gaia. O problema é justamente que nada aconteceu. Cada vez que abandono as rédeas da minha vida em prol do destino, caio do cavalo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Está mal por ontem?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Não encarei de todo o mal as coisas que se passaram. A verdade é que a nossa percepção do momento é um tanto destorcida e a gente acaba se perdendo. De repente, já tomamos partido e voltar atrás em algumas coisas acaba se tornando uma difícil tarefa.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- As expectativas comerão sua alma, Téo.</div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-29492631539577608052012-01-15T21:08:00.000-08:002012-01-16T09:02:25.917-08:00Sobre outras perdas e Elegias<div style="line-height: 16px; padding-bottom: 0px; padding-left: 0px; padding-right: 0px; padding-top: 0px;"></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Quem visse a cena de fora com certeza daria risada – na certa encararia como brincadeira o que aquela senhora estava fazendo, rezando pai-nosso e ave-maria com o megafone do neto em mãos. Megafone, que, diga-se de passagem, estava com o volume no máximo. O instrumento que já foi utilizado por policiais e estudantes, revolucionários da direita e da esquerda, estava ineditamente sendo utilizado como meio para propagar as orações católicas de uma senhora dotada de fé, netos e bisnetos.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">O momento em que se passou a dita cena foi na última ceia de natal. Toda a família presente naquele clima que só o Dezembro ocidental pode proporcionar: primos bêbados, tios bêbados, crianças comparando presentes e mulheres empanturradas de comida pela ceia que foi posta à mesa.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Após as orações triviais a senhorinha arriscou uma reza em línguas, que misturada ao eco do instrumento em mãos e a descontração do clima, acabou por se tornar algo ligeiramente caricato, fazendo com que todos segurassem o riso. Olharam-se os netos, os tios e até os cães, esperando o final da oração para que pudessem servir a comida posta à mesa. Quando ninguém aguardava mais nada da boca da avó, eis que surge um breve “Atacar(!)” proferido por ela. Ninguém segurou o riso – netos, genros e derivados gargalharam e a velha levou a pérola na brincadeira.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Foi um bom natal pra uma família que recentemente vivenciou uma tragédia – pensei em aliviar na definição, mas o termo foi inevitável. Sim, foi uma tragédia, que nem a hermenêutica dos Maias pode interpretar ou dar consolo a todos que foram atingidos pelo impacto. Cogitei se teríamos mesmo um natal depois do que tinha se passado, mas com tradição não se brinca. A Família da Dona Inda sempre prezou pelo mês do nascimento daquele que chamam de salvador. Há fartura nos pratos, nos copos e até(!) nos corações – não é estranho deparar-se com parentes ímpares trocando idéias e experiências no momento da ceia ou do tão batido amigo oculto.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Ninguém reparou, mas a matriarca – genitora de um filho e de uma penca de mulheres – precisou de muito jogo de cintura pra conseguir manter o clima coloquial de que todos sempre se valeram. Dotada de uma serenidade de quem já muito se esbravejou, ela não condenava as mesas de café, fofoca e jogatina que compõem a rotina das mulheres da família. Tampouco julgava o porre dos netos e dos genros depois das tantas caixas de cerveja. É quase uma regra: se cansa na juventude para descansar na velhice. A verdadeira serenidade só vem depois de muita luta.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Tive com ela quinta passada, no hospital. A senhora tinha sido internada às pressas por uma razão que eu desconhecia. Cheguei ao momento em que ela mudava de quarto, e ainda que tenha sido escasso o tempo do diálogo entre nós naquela noite, denso foi o conteúdo que nele se constava. Minha avó comentou sobre meu texto e a minha barba, soltando um suspiro de cansaço depois disso. Quando ia me despedir, pediu oração.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Confesso que não sou doutor em orações – e diferente de muitos outros, creio que religião se discute sim. Nunca foi tabu conversar com a Inda, velha rezadeira, sobre a conduta dos padres em pedir dízimos incansavelmente ou em atrasar demasiado a missa e a cabeça dos fiéis. Voltei ao hospital no outro dia e não houve diálogo; ela estava mal. É claro que a preocupação existiu, mas de uma forma muito displicente, de modo que me fez até planejar uma viagem no fim de semana para entreter o estrangeiro que estava dormindo em casa.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Na madrugada do outro dia recebi a notícia de que a senhora dos terços e dos cafés tinha se ido. Senti no peito novamente o soco ácido que só a morte pode proporcionar. Vi-me de novo naquela manhã de 4 de Setembro. Vi minha mãe aos prantos, ainda que longe de casa. Vi o incerto. Visto de longe, parece mais fácil assimilar a perda de uma anciã, que já viveu o que tinha pra viver. Visto de perto, morte é morte; não tem idade, nem arrependimento. Senti a brisa fria da madrugada na cidade e escutei a música ambiente; de volta à utopia da paz. Um estar longe de tudo, um <em>dejavú</em> de sensações, como se eu já visse e previsse tudo aquilo que acabara de receber. Como se eu ignorasse a frieza do destino.</span></div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><br />
</div><div style="background-color: white; color: #333333; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">A hora de ser forte é agora. Dar escora, dar lembrança, dar amor. Na nossa família ninguém vai entregar o ponto. Uma onda de pesares, uma ressaca de serenidades. A verdadeira paz só vem depois de muita luta. Quem sabe será mais fácil com você aí em cima, Vó.</span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-45128842535303721922012-01-03T18:51:00.000-08:002012-01-05T05:21:31.844-08:00Bodas de Prata [ Baseado em fatos reais]<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Um casal. Ambos da mesma idade. Ele era pobre, ela também. Ele saiu da roça e estudou em um colégio de padres na cidade, sustentado por seu tio, que era padre. Ela era filha de açougueiro e fazia um rolê vendendo cosméticos. Ela foi pra escola; ele pro seminário. Ele estudou história. Ela, ensino religioso. Passou um tempo. Ambos gostavam das letras. Ela quis estudá-las na faculdade enquanto ele permanecia rezando as mesmas no retiro. Ele queria ser padre. Ela, catequista.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Sabe-se lá que sonhos estranhos – quiçá eróticos – o tal jovem seminarista teve, mas decidiu largar o seminário. No mesmo momento, a moçinha inocente da cidade já tinha seus contatos profissionais desde o primeiro emprego no fórum – sabe-se lá também como, pois era tímida.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Ressalto: ambos eram tímidos (!). Ele saiu do seminário repleto de métodos, manias e sistematicidades: não aparava a barba, rezava três ave-marias a cada manhã e nada de chegar perto do que o diabo gosta. Bebida, nem pensar. Nem pra ele, nem pra ela. Pais bravos, os dois tinham. Não seria estranho que um dia se cruzassem pela vida num banco de uma praça qualquer e discutissem sobre a fonte, a igreja e o amor. Pois é, não foi. Ou melhor, foi, e foi mais ou menos assim, um pouco depois de se conhecerem:</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- Que dia é hoje? – ela pergunta ao barbudo do sertão vizinho.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- 1º de Abril, Dia da mentira.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- E como sabe? Há de fazer alguma coisa hoje?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- Nem hoje nem amanhã.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- E por quê?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">- Porque amanhã é meu aniversário.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">A moça riu. Não conseguiu segurar a timidez, desconfiando da afirmativa do caipira como todo mundo faz em dia da mentira após receber uma observação curiosa ou boa demais para ser verdade. “Inocência tem limite”, pensou ela. O caipira não riu. Talvez porque fosse mesmo um caipira, ainda que dotado da cultura católica. Percebendo a hostilidade do clima e o acato do jovem mineiro, a garota insiste: <br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- Amanhã é mesmo seu aniversário? </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Ele confirmou. Não sei ao certo se rolou uns parabéns da parte dela. Algo além disso não teve; no máximo um “tudo de bom”, ambos eram tímidos demais para tanto. E então se despediram.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Pra um jovem recém-saído de um seminário repleto de padres gordos e velhos em meio a adolescentes bitolados em altares e pais-nosso, um sorriso de uma loira interiorana sob o azul do céu em plena tarde pacata no banco de uma praça pode ser uma grande avalanche para o coração; uma espécie de prenda ou sugestão do destino. É claro que ele se apaixonou. O difícil foi ela encontrar razões para gostar de um caboclo sertanejo barbudo que acabou de sair do seminário. “Sem a barba, ele deve ser bonito” – há de ter pensado a jovem.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Encontraram-se mais uma vez – por acaso. E depois mais uma – por querer. E depois outra e outra e outra. Namoraram. O rapaz da roça não sabia ao certo se era mais difícil enfrentar a sua timidez ou a braveza do pai da moça. Namoravam na casa dela – até as 20hrs. Mais que isso era putaria, desacato à família católica dos amantes. De novo o impulso do tempo, do destino e dos hormônios fez com que ambos dessem outro passo importante nos problemas do amor. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">O caipira arrumou um emprego no banco, ainda barbudo. A moçinha foi parar num cartório. Estabilizaram-se e depois se casaram. Era pra ser esse o final de uma história em que a única parte cômica foi aquela coincidência do encontro em 1º de abril. Poderia ser também o começo de uma história sobre uma família perfeita, politicamente correta e sem vícios de convivência – o filho mais velho não beberia, o mais novo estudaria e a genética do casal terminaria o resto do trabalho. Mas não, não foi assim.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Com 26 anos ele teve seu primeiro Happy hour, o primeiro copo gelado de cerveja – provavelmente deve ter comentado com os colegas de trabalho que a bebida dourada amargava a boca e que na próxima não ousaria nem provar, pediria um suco. Ela aprendeu a dançar, afinal, agora que eram casados, não havia horário que limitasse o pudor dos pombinhos. Com a cerveja ele acostumou; depois de um tempo, até incentivou que ela também estreasse no campo dos que bebem socialmente - em rodas de amigos, com salaminhos, amendoins e azeitonas. Por fim, gostaram. Haveria de ter cerveja nas compras do mês. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Ela adquiriu independência, dirigir ela já sabia, só faltava o próprio dinheiro praquele estereótipo da tão sonhada autonomia de mulher do século XX. Anos se passaram. Aprimoraram na dança, na cerveja e no sexo. Depois de uns anos, o primeiro filho nasceu. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Começaram a freqüentar novos ambientes – criar filho novo tem dessas coisas. Iam passear na praia e na cidade grande. Novidades não faltavam, mas a praia era quente e a cerveja começou a ficar pouca pro casal. As danças também passaram a cair na rotina e o pai de família foi buscar novos horizontes; acabou encontrando o samba. Tudo passou a mudar gradativamente, exceto pela barba do rapaz.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Não demorou muito pra que outro filho viesse. Quanto mais contas, mais problemas; quanto mais problemas, mais cerveja; quanto mais cerveja, mais samba. Foi aí que tudo mudou, num piscar de olhos, sem ninguém perceber – nem mesmo os filhos. Épocas difíceis expandiram o rol de amizades que foi muito além daqueles bons e velhos padrinhos de casamento. Quem via de fora estranhava: “um seminarista, intelectual, sertanejo, que toca percussão na roda de samba em meio a caixas de cerveja, não pode ser normal”. Nada que atrapalhasse. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Os filhos foram crescendo e comida não faltou. Bebida muito menos – até dizem que o mais velho se aventura nas artes do copo enquanto toca violão depois da faculdade. Samba também não faltou – o mais novo aprendeu a arte do cavaco e desbrava as madrugadas com batuque e lalaiá. Crises, várias; mas marolinhas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">É incrível como o casamento – ou o amor – pode mudar os hábitos de um casal num desgaste de calendário. Mudaram tanto ao longo dos anos que voltaram a ser quase a mesma coisa depois que os filhos cresceram. Um chocolate dele pra uma TPM dela. Um beijo dela pra enxaqueca dele. Açúcar e adoçante vivendo juntos no mesmo copo. O segredo para uma relação não é manter a mesma em segredo, mas com segredo(s).</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Hoje cedo ele acordou, caminhou e não fez a barba; quem sabe pensou em pedi-la novamente em casamento. Ela, enquanto despertava, olhou para os dedos e deu falta nas alianças, até se lembrar de que as havia enviado para dar uma recauchutada. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">Encontraram-se na cozinha, acordaram os filhos e tomaram um café daqueles que só a sinceridade da manhã pode nos proporcionar. Com mais quilos e rugas, com mais samba e cerveja, fizeram 25 anos de casados. </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-75747593245511348622011-12-22T15:11:00.000-08:002011-12-22T15:30:01.525-08:00Ato de Café<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">(...)</span></span><br />
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;"><br />
</span></span><br />
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">- Deveríamos deixar de viver desse jeito.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">- Como assim, Téo?<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">- <span style="font-family: inherit;">Em terceira pessoa, Gaia. Enxergando-nos de longe. Faço tudo como se me observassem: cabelo, roupa e copo. Sinto-me culpado por aquilo que não fiz. Você sente isso? Consegue se olhar de longe?</span> </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">- Não.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">- Por isso você é feliz.<o:p></o:p></span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: inherit;">Téo vira o copo, matando de súbito a dose que continha nele. Gaia não tinha decifrado a bebida; não precisava. De amarga, bastava a vida. </span><span style="font-family: Calibri; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-62785293562024470042011-12-19T13:18:00.001-08:002011-12-19T19:42:44.220-08:00Sobre a obviedade do ano novo<div style="background-color: white; color: #333333; line-height: 16px; text-align: left;"><div style="text-align: justify;"></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Em Dezembro todo cronista mostra a cara. É o mês da balança; um plantão para as reflexões do dia-a-dia que se acumularam até a chegada do ano novo. Até quem não escreve faz votos públicos por meio dos caracteres recheados de clichês e expectativas. As <em><span style="font-family: inherit;">timelines</span></em> das redes sociais ficam pequenas.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Quisera eu ser um Drummond e profetizar em Dezembro umas e outras coisas belas sem deixar de reconhecer as ruins. Mas o tempo não ajuda. Eu poderia dizer um sem-número de palavras capazes de adjetivar essa saga de trezentos-e-sessenta-e-cinco-dias que a gente chama de ano, reclamando e comemorando durante doze meses; mas não consigo.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Falta originalidade ao tempo. Quem sabe se o ano durasse uma década, ter-nos-ia assuntos novos e motivos de sobra para bater no peito e esperar o novo ciclo com um saldo positivo nos bolsos. </span><span style="background-color: white; line-height: 16px; text-align: left;"><span style="font-family: inherit;">A definição ocidental para o tempo se limitou à um petardo de estereótipos.</span></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Você, senhora – coroa de dois filhos, marido e presente pra comprar – até vai conseguir entrar na academia depois da segunda semana de Janeiro e colocar em prática uma ou outra receita da Ana Maria quando o colega de trabalho do seu esposo for jantar na sua casa; mas não vai durar – no máximo até Abril, quando o Fantástico explicar a farsa da sua dieta.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Você, senhor – carro financiado, barriga de chope e contas a pagar – até vai conseguir beber menos, cortar o cigarrinho e atender ao que sua esposa católica apostólica romana pediu na época da quaresma e da menopausa; mas não vai durar – perderá o ritmo no primeiro churrasco antes do sábado de aleluia.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Você, adolescente – bixo de faculdade, com namorada nova e passado ilibado – até vai conseguir estudar, ser fiel e manter a forma e a convicção política longe de casa; mas não vai durar – verá de camarote tudo desabar depois da primeira cervejada da atlética e até vai achar graça nisso tudo enquanto estiver de ressaca.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Antes do meio do novo ano todos os votos e expectativas vão por água abaixo, escorrendo pelas mãos numa cusparada do destino. Os mais velhos se deixam levar por não ter mais nada a perder; são traídos pelo corpo. Os mais jovens corrompem a ideologia adotada em Dezembro ainda no começo do ano seguinte, quando chega o carnaval. Os mais velhos prometerão castigo aos mais novos; e estes saberão que aqueles não vão colocar a pena em prática, pois fizeram a mesma coisa em tempos passados.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></div><div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit; line-height: 150%;">Contenho-me com os pedidos e ambições de ano novo; chego a este sem quem era essencial na minha vida. </span><span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 150%;">Não encontro motivos para comemorar réveillon, senão por poder passar de um 31 de Dezembro para um 1º de Janeiro. </span></div></div><div class="MsoNormal"><br />
</div></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-4936965697676239762011-11-20T16:32:00.000-08:002011-11-21T06:03:37.726-08:00Ato de Domingo<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">(...)</span><br style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;" /><br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Téo entra no cômodo e logo se senta. Não por acaso – mas por coincidência – a música ambiente calejava a respectiva cena. Solo; tanto ele como as cordas. Não pensava em nada naquele momento, exceto no fato de que era domingo e de que isso seria o bastante para não se ocupar com nada; afinal, não conseguiu dar continuidade em nenhum dos planos elaborados diurnamente na cama.</div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">- Domingo tem dessas coisas – pensou ele.</div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;">Gaia abriu a porta, absorvendo num ímpeto todo cenário com que se deparava e, de súbito, interrogou o status da alma alheia: </div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;"></div><div style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Está triste?</span></div><div style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: normal; text-align: -webkit-auto;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Estou.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">Mas talvez não estivesse. Respondeu num susto, com a certeza de que a resposta calaria a interlocutora. O disparate foi como uma denúncia transcendental. Como se nos azulejos da parede à sua frente estivessem colados um par de espíritos, resistentes a sabonetes e detergentes, mas inertes às demandas da rotina humana.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">Ela não contestou. Em dias assim a ausência se basta. Téo alongou os braços sem nenhuma razão lógica para tal ato; e suspirou. Gaia respeitou o minuto e tornou a abrir a porta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Você também está assim? – interrogou o rapaz de modo a frear a passada da mulher.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Assim como? Triste?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Não.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Como então?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Como se não fosse possível viver sem consciência e você estivesse necessariamente disposto para tanto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Como naqueles momentos em que a gente não encontra o ar?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Mais ou menos. Como se para encontrar o ar nós precisássemos da boa vontade dos Deuses e do bom senso dos espíritos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;"></div><div style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: normal;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Acredita em espíritos?</span></div><div style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: normal; text-align: -webkit-auto;"><span style="line-height: 24px;"></span></div><div style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: normal;"><span style="line-height: 24px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Só nos ruins. As boas almas do outro plano nunca me apareceram em momentos de solidão; diferente daquelas obscuras de que me lembro desde as noites mais remotas da infância.</span></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- E nos Deuses, você acredita Téo?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Apenas nos distraídos. Talvez isso explique o destino. Coisas boas e ruins acontecendo sem prévias justificativas, mas com explicações póstumas, ainda que não plausíveis.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Talvez isso explique a sorte e o revés.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #2b2b2b; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 22px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;">- Talvez.</span></div><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: -webkit-auto;"></div></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7966004621405623015.post-81802375323104299912011-11-12T16:47:00.001-08:002012-05-17T08:03:03.319-07:00De outras cartas e elegias<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="background-color: white; color: #333333; font-family: inherit; line-height: 18px;">De que vale, se de tudo fui testemunha? De que vale se não há pra quem contar? O passado não passa de um guardanapo engordurado. No seu caso, um rascunho bem feito de uma caricatura minha. Choro agora – e tenho no meu choro mais sinceridade do que qualquer discurso político. Um soco no estômago. Crime torpe em minha rotina. Sinto falta do silencio que não incomoda. Quem saberá o que se passou antes do ápice de sua ausência? Somos separados por minutos. Que se danem os espíritas se o meu apego te puxa de volta. Ainda lembro-me das esquinas. Ainda choro com tuas músicas. Prefiro-te aqui por perto. Sem choramelas nem demagogia; só saudade. Quero alguém pra pilotar o Jipe azul; quero alguém pra acertar o alvo; quero alguém pra arrumar meu acampamento quando eu não estiver em condições de fazê-lo. Quero te pedir perdão – se houver razão; ainda que tarde. Sou caricatura d’um retrato que foi embora.</span></div>Gustavo Fariahttp://www.blogger.com/profile/12202254892768837076noreply@blogger.com1