Ato de fim de semana

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Téo já previra o que iria acontecer, no momento em que deitou a cabeça na pedra. Observava o céu e as nuvens com uma densa dúvida sobre quem se movia mais rápido. Frente aos seus olhos, uma linha divisória destacava o azul, lado a lado com as espumas de vapor que mais pareciam às barbas de um velho – Deus, quem sabe. O contraste das cores fez com que se lembrasse do Rio Negro e do Solimões. Por pensar em rios, recordou também o Tejo, memória esta que o levou a Portugal – país onde nunca havia estado antes. Nesse meio tempo, concluiu que o lirismo é português.

Como é belo o milagre da intuição. Despertamos e nem reparamos que o compasso do peito é o que dita como vai ser o dia. A falta de ar que Téo sentia poderia servir – para os mais perspicazes – como pista para a decepção que teria em breve.  Criar expectativa é financiar felicidade – lembrou-se. O presente foi tomado por uma dicotomia razão-paixão, que de tão ácida, foi encarada como desilusão. Uma desilusão amorosa que não tratava de amor, mas de paixão – o que não exclui a possibilidade do afeto unilateral.

Téo se levantou e caminhou até o quarto, naquela velha necessidade de sepultar as perguntas com respostas. Gaia lia Woolf, sentada de pernas cruzadas como fazem os hindus. Fitou-a. Ela não levou mais que um instante para perceber e interrogar o desespero do homem.

- O que houve?
- Nada, ainda.
- Você fala como se descobrisse o fim do mundo. Se nada aconteceu, não há motivos para desapontamentos.
- Tu não entendes, Gaia. O problema é justamente que nada aconteceu. Cada vez que abandono as rédeas da minha vida em prol do destino, caio do cavalo.
- Está mal por ontem?
- Não encarei de todo o mal as coisas que se passaram. A verdade é que a nossa percepção do momento é um tanto destorcida e a gente acaba se perdendo. De repente, já tomamos partido e voltar atrás em algumas coisas acaba se tornando uma difícil tarefa.
- As expectativas comerão sua alma, Téo.