Nota de um coelho


Nem mensalão nem olimpíadas, a pauta da semana foi um concurso para escolher uma “Coelhinha” que representasse a identidade acadêmica de uma faculdade.
  
Deve estar se perguntando: mas qual a polêmica?

 Um grupo de alunos da faculdade associou a ideia do termo “Coelhinhas” (nome que compõe o título do concurso) àquela marca do velho playboy americano, Hugh Hefner. Tal associação, ao lado da hipótese do julgamento do Concurso basear-se em parâmetros de beleza, ensejou uma conclusão de que o respectivo evento se valia de um caráter machista, inserido num contexto de opressão contra uma minoria de alunas.
  
A conclusão deste grupo deu origem a uma NOTA DE REPÚDIO – sim, com todas estas letras: N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O.
  
Você me pergunta agora: por quê?

 O texto da nota justifica tal posicionamento dizendo que Concursos do tipo caminham para o retrocesso social, agindo em desconforme com o Estado Democrático de Direito e invadindo a integridade moral da mulher. Foram além, afirmando que a intenção do evento era COISIFICAR – oi? – o sexo feminino.

 Espere aí, mas o concurso era de beleza?

 Não. O Diretório Acadêmico não disse os termos do Concurso, tampouco os caracteres de julgamento do mesmo. Em nenhum momento o D.A afirmou que seria preciso beleza para que uma aluna ganhasse o Concurso.

 E por que “Coelhinha”?
  
Explico. A Mascote da Faculdade é um coelho – escolhido democraticamente pelos alunos, por meio de votação. O desenho do mesmo foi feito por um estudante da própria faculdade. Assim, o termo nada tem a ver com a marca Playboy.

 Mas, e se o Concurso fosse de beleza, ainda assim não poderia acontecer?

 Aos olhos da N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O, não. Os argumentos são aqueles mesmos.

 Claro que, se houve indignação de um lado, também houve de outro. A esmagadora maioria manifestou-se ela permanência do concurso. Não faz sentido que censurem a participação de uma aluna, sendo que esta age de plena vontade própria (olha o livre arbítrio aí!). Mas, ainda assim, falaram por ela.

Você se pergunta agora: mas não é muita tempestade em copo d’água?

É. Bom senso não vem de berço. Ao criar o Concurso, o D.A não imaginava que fosse preciso explicar o caráter de entretenimento do mesmo. Diversos eventos do tipo acontecem em inúmeras faculdades do país – e, cá entre nós, em muitos lugares fazem coisas piores (onde realmente deveria existir uma N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O).

E por que estou escrevendo isso?

Sou membro do D.A. E confesso: ninguém abriu a Constituição Federal de 1988 quando teve a ideia do concurso. O artigo 5º, supostamente violado pela ideia da eleição, possui um rol de incisos que eu estou tentando decorar já faz quatro anos! Sério, é muita coisa.

Nesse sentido, se – na absurda hipótese – as coelhinhas feriram a dignidade da mulher, o fez de maneira (muito) indireta.
  
E se formos falar em princípios, por que excluir o livre arbítrio? Se o concurso ofendeu aquelas que não participariam, a nota feriu em maior proporção àquelas que tinham interesse na eleição.

Gostaria de entender o teor deste moralismo, justo agora.

Faz 4 anos que estudo na Faculdade onde fizeram a nota. Já vi muita gente se aproveitando do Diretório Acadêmico; atuando na gestão com displicência e sumindo com dinheiro de repasse sem explicações. Nunca vi um membro do D.A, das gestões anteriores, entrar na sala de aula e mostrar prestação de contas, mostrar proposta realizada, mostrar trabalho feito. A maioria só sugou. E, contra isso, NUNCA ninguém fez nenhuma N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O.

E como anda a situação do D.A hoje?

Assumimos o Diretório com várias dívidas. Daria para escrever um romance. Houve gestão passada que foi condenada judicialmente, e nós pagamos parte da dívida. Houve membro egresso que fazia da sede uma verdadeira sacanagem. Houve muita coisa. Certa vez, fomos comprar bebidas num 24hrs para divulgar uma festa; o dono do bar abriu a gaveta e nos surpreendeu com uma dívida de R$1.000,00, oriunda de – adivinhem! – uma gestão passada. Pagamos todos os débitos. Pela primeira vez, em ANOS, o Diretório Acadêmico possui o nome LIMPO, limpinho da Silva! Sem falar nas propostas que conseguimos colocar em prática.

Eu sei que a nota não criticou a eficiência da nossa gestão, mas tão somente o concurso. O que deixei aqui teve o objetivo de esclarecer as coisas para ambos os lados. Nem a nota de repúdio, tampouco a presente crônica, objetiva alcançar alguma ofensa de cunho pessoal. Existem concepções distintas, que precisam ser debatidas. É o caso do machismo, estopim do debate, que como tudo ao redor, passou por um processo de banalização (ao lado de fotografias do Instagram e frases da Clarice Lispector).

Houve mesmo o machismo que afirmaram?

Mostre-me materialmente indícios de que o Concurso acarretaria em quaisquer das consequências alegadas, e vamos cancelar as eleições. Muita dor sem ferida, muito choro sem vela. Vejo a N-O-T-A-D-E-R-E-P-Ú-D-I-O como um instrumento de censura, desnecessário ao ambiente Acadêmico em que se situa. Quase uma medida KASSABIANA, querendo varrer das ruas o que não se situa no intervalo entre o Politicamente Correto e a moralidade absoluta. Ainda hão de proibir as conversas de boteco.

Espero que o bom senso esclareça as coisas, acalme os ânimos e desembace as lentes. Melhor é tomar uma cerveja, enquanto damos uma NOTA ao pior sorriso do Mister Universo e ao Tchau mais feio da Miss Brasil.
  
Entre o Politicamente correto e o incorreto, fico com o Politicamente saudável.