Panela velha


Toda a particularidade do Domingo está no fato de que nos sobram tempo e ócio suficientes para alcançar pouca produtividade ao longo do dia. Num breve resumo: alguns vão à missa, outros assistem às corridas e os – perspicazes – retardatários continuam dormindo. Ocorre que, sem sucesso em nenhuma das alternativas colocadas em evidência, aderi ao que receitava o sabido poeta lusitano e resolvi fazer ten(ç)ão de todas as coisas da vida.

Não havia momento mais apropriado do que o almoço. Pra quem não sabe, cozinhar sozinho é uma atitude tão introspecta, ociosa e particular quanto o cafezinho dos professores de filosofia – entenda-se tal introspecção como aquele momento em que nos vêm à cabeça um petardo de merdas (!) – de todos os lugares e qualidades; e então nos lembramos do vencimento da conta, da prova de quarta e da cerveja de sexta.

Pois bem. Estava eu cozinhando o arroz dominical sem nenhuma pretensão filosófica quando, por acaso, me atentei à facilidade com a qual os grãos se soltavam do negro e desgastado fundo da panela. Não era o óleo. Tinha certeza. Em outros recipientes o arroz não era tão brilhoso e nem tão soltinho. O mérito era todo da panela – o mais antigo apetrecho do cômodo refeitório.

Enquanto terminava meu simples prato de arroz branco me veio à mente uma corrente de notas da semana. E, misturando o almoço com as notícias – numa sagacidade de sábio chinês – cantei: panela velha é que faz comida boa (!). Explico.

Ontem, no seleto núcleo Repnóia de amizades, recebemos uma boa nova de Rodrigo Gonçalves – que de nova, não tem nada. Nosso saudoso amigo nos confidenciou suas eróticas aventuras com sua deusa Milf. Foi o bastante para que cada um do grupo se lembrasse de suas próprias façanhas com as titias do bar. Pois então; mudemos agora de cômodos, e vamos da cozinha para o quarto.

Milf ou coroa, tanto faz. O importante é ter idade e experiência o suficiente para fazer direito. Todo homem que já experimentou – desde cedo e intensamente – da boemia sabe o deleite que é trepar com uma mulher (muito) mais velha. Poderia citar dezenas de amigos que – como diria Milton Leal – comeram até o caroço desta fruta madura.

É sempre por acaso. Não pense você que um moleque vai parar numa cama (já) estreada de modo pensado. Dirá Márcio Lacerda, “eu vou”. Acalme-se Marcinho, você é exceção. Mas voltemos. A cena típica é: chegamos ao bar, bebemos, nos perdemos dos amigos, bebemos, frustramo-nos com alguma Chris, Bia ou Gabi de vinte e poucos anos, bebemos; e por fim, estacionamos no balcão. Neste momento, não nos resta nenhuma pretensão e aguardamos pura e simplesmente a hora de fechar o recinto. O trabalho está feito.

E então, é aí que a Milf aparece – turva e intensa como a nossa míope visão etílica do momento. Ainda desapontados pelas tentativas anteriores arriscamos um último tiro; um suspiro. Apenas uma deixa. Atiramos a ultima flecha no peito exposto; e acertamos. Acabamos recepcionados peito a peito com um papo adulto, sincero e carinhoso. Quando saímos do bar – após o mútuo consentimento acerca do convite de ir até a casa mais próxima – avistamos o possante e engatamos o passo até o relento da paixão.

Quando é chegada a hora, desde as preliminares o rapaz se surpreende; para bem. Ele usa e abusa das novas posições, faz pedidos a ela – que os realiza sem pensar duas vezes – e se sente até abraçado. Com amor, mas sem pudor. Ele é o arroz branco que se solta. Ela é a panela. Após a idílica experiência, ele volta para casa são e salvo – mais salvo do que são – e com a cabeça no travesseiro, dorme e sonha com a coroa.

O menino acorda no outro dia com paz de espírito. Toma um sagaz café da manhã e vai à faculdade de peito aberto, ansioso para contar aos mais chegados o benefício da troca noturna. Foram-se os problemas. Como lembra o cronista Xico Sá, só se cura um amor platônico com uma trepada homérica.

Sabe-se lá que arroz branco foi Sérgio Reis em outras vidas ou a idade da panela que ele usava; só vale dizer: “panela velha é que faz comida boa”.

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