Do presente

Me perco na rotina. Cinco sentidos não bastam e a sinestesia não é para todos. Tenho a mania de tomar para mim toda indireta que aparece pela frente quando algo não está claro. Como quem coleta pistas pra entender o passado ou descobrir o futuro. Como se não houvesse verso de amor, frase de liberdade ou música de saudade que não fosse feita especialmente para (re)afirmar a (in)certeza do tempo de agora. E hoje não há estrofe do Pessoa ou conclusão da Clarice que não tenha sido escrita por mim.

Amor, liberdade e certeza; a vida se apega às coisas das quais ela menos dispõe no momento.  Minha fonte de certeza é o ponteiro do relógio e meu futuro ainda não saiu do calendário. O resto, não passa de possibilidades. Atribuo possibilidades às esquinas e aos gestos. Tenho dez verbos pra cada palavra sua e vou morrer sem saber em qual deles morou o beijo. Tenho dez cores pra cada humor seu e vou morrer sem entender se é melhor te ver roxa ou verde malaquita.  Crer na possibilidade é apostar na felicidade com um bilhete a mais na mão.

O meu presente é duvidoso; tem as aspas do passado e as reticências do futuro.

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